A sexualidade humana está baseada na pulsão. A pulsão possui fontes corporais chamadas zonas erógenas. Uma dessas zonas é a boca. Por essa razão, comemos por necessidade fisiológica, mas também por satisfação oral. Comer é gostoso e prazeroso.

Essa necessidade e tensão interna da fome que é repetida diariamente está inicialmente relacionada a pulsão de autoconservação e sexual (ou pulsão de vida). Ela nos faz dar o primeiro movimento em direção ao objeto da pulsão, o primeiro choro, o primeiro esboço de uma possível relação com o mundo.

No entanto, isso que está provocando prazer e conforto de um lado, pode ser desprazeroso e gerar sensações de desconforto de outro. Sabemos o quão prejudicial a saúde é comer em excesso de maneira compulsiva. Mesmo com tantas informações disponíveis ainda assim nos colocamos em risco ao comer assim.

Quando se tenta parar, parece sempre muito difícil, e uma tendência à repetição se impõe. Esse descontrole sobre os nossos próprios atos sempre me intrigou e foi isso que me levou a me interessar pela psicanálise.

Freud diz que nos enganamos ao acreditarmos que controlamos os nossos atos. Não somos senhores da nossa própria casa. Há comportamentos que são movidos por fatores inconscientes e que sobre o qual quase nada sabemos. Para explicar alguns comportamentos autodestrutivos, a psicanálise faz uso do conceito de pulsão de morte.

A pulsão de morte, em linhas curtas, seria a tendência que temos de retornar a estados anteriores. A um estado de ausência de tensão e estímulo. Mas o organismo que não tem tensão e estímulo é aquele que está morto.

E sim, em casos extremos, o comportamento alimentar em excesso usado como mecanismo de alívio de tensão pode mesmo nos levar à morte. Uma saída mortífera para lidar com o sofrimento.

Algo comum a todos e que está presente desde o início da vida, sofreu uma série de transformações. E aquilo que era prazeroso, pode se tornar doloroso, precisando de intervenções especializadas. A psicoterapia nos ajuda a encontrar saídas mais criativas e saudáveis, fazendo com que seja possível passar do “comer para morrer” para o “comer para viver”.