A compreensão sobre as origens do desenvolvimento humano, auxilia nosso entendimento do sintoma alimentar como consequência de uma perturbação na relação mãe-bebê. Sendo o seio a primeira fonte de satisfação de necessidades instituais, na amamentação, além da nutrição, é transmitido ao bebê a sensação de segurança emocional e simbolizados desconfortos através da linguagem.

Essa relação primária pode ter sido percebida como pouco supridora das necessidades instintuais e emocionais e isso ter gerado repercussões na vida adulta. Não sendo incomum escutarmos no consultório queixas em relação ao Outro como pouco supridor dessas necessidades e notarmos a voracidade e hiperfagia como tentativas de preencher vazios nas relações.

Nesse ponto de vista, as psicopatologias alimentares são compreendidas como dificuldades nas relações com as outras pessoas. Essa etiologia é derivada da teoria das relações objetais (Freud) e da teoria do apego (Bowlby), sendo que a melhora das dificuldades interpessoais representam um impacto positivo na autoestima e autoimagem, o que provoca melhora dos sintomas alimentares de forma indireta.

A terapêutica psicanalítica envolve a recordação da história que insiste em ser lembrada através da passagem ao ato do comer compulsivo e emocional. Por essa razão, a compulsão que a psicanálise trabalha é a compulsão a repetição. A análise da transferência e interpretação das resistências, auxilia o paciente a tomar consciência da associação entre os sintomas alimentares e a sua imagem corporal com os aspectos da sua dinâmica relacional.

Mas é preciso lembrar que há diversas formas de compreensão dos sintomas psicológicos. Em diferentes sujeitos, um mesmo sintoma pode ser uma resposta a conflitos inconscientes distintos. Cada análise considera a história singular da pessoa e as razões específicas para a construção daquela forma de falar o que não pôde ser representado de outras formas.